quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A IMPORTÂNCIA DA FÉ NO PROCESSO DE FAZER TEOLOGIA

“Quando a fé crê por causa do amor daquele em quem crê, então deseja possuir as razões disso.” S. Boaventura

Nesses últimos dias tenho percebido a crise: crer em quê? Essa luta interna humana de querer sempre encontrar explicações para a vida. Explicações que não importam de onde surgem, podendo ser mitológicas, infantis ou apenas por repetições, desde que supra as minhas necessidades,ou curem a minha dor,ou pelo menos me traga uma explicação para a minha vida.Isso é um processo natural da religião, pois o homem precisa ter fé em alguma coisa,para poder caminhar na vida. . Todavia, parece-me que a quebra de algumas explicações tradicionais, fizeram alguns terem a nítida sensação que a fé está sendo morta pelo racionalismo e que a mudança de respostas espirituais pode ser um perigo à fé da Igreja. Afirmo então que todo o processo teológico é iniciado e sustentado pela fé e que qualquer caminhada da boa Teologia não visa diminuí-lo nem enquadrá-lo, todavia visa conhecê-lo mais profundamente.
1. A Fé Inquieta-se pelo Saber
Sou um homem que desde cedo precisei andar por vários caminhos, e em todos eles era movido por uma crença interna. Porém ao me encontrar com Cristo, a minha fé se tornou uma bomba explodindo a vontade do saber mais desse Deus. É assim até hoje. Inquieto-me sempre. É como se eu precisasse todos os dias buscar a intimidade com o meu Deus, através do saber mais Dele.
A fé quieta, parada é a fé morta. É a fé sem a intimidade. É a fé que instrumenta Deus ao molde já traçado. Essa fé não faz o homem pensar e sim repetir tudo que já disseram como se a necessidade dessa fé fosse explicar por explicar e não conhecer mais a Deus. Gosto das palavras de Clodovis Boff:

A pessoa da fé quer naturalmente saber o que é mesmo aquilo que acredita, se é verdade ou não. Quer saber também o que implica tudo aquilo em sua vida concreta e em seu destino. É que a fé tem isso dentro dela: A curiosidade. Ela quer saber de si mesma. É possuída por um dinamismo interno que a leva a se autocompreender[1].

Essa fé curiosa e inquietante nos leva sempre a dois tipos de reflexão: a reflexão conceitual e circunstancial. Ou seja, a fé é um processo dinâmico, todavia precisa de bases. Por ser um processo dinâmico, pode até questionar as bases, todavia sempre precisará partir de algum ponto.
Afirmo então: não pode haver uma crença sadia em Deus, se não existir uma inquietação da nossa alma pelo conhecer mais a Deus. E que esse processo dinâmico é necessário ao homem, e que também sempre será o processo do fazer Teologia. Ou seja, a Teologia é o conteúdo da crença.



2. A Fé é a Base da Teologia
A fé inquietante nos mostra o caminho para a Teologia. Porém antes eu preciso entender a fé como base de uma nova criatura, de um novo ser, de um novo homem. (IICo 5:17).
A fé me leva à conversão, isso é uma base inquestionável. O ato de acreditar nesse Deus me faz caminhar em um novo sentido, em uma nova ética pessoal. Essa ética pessoal me direciona às decisões presentes e ao investimento futurístico. Ou seja, a fé me faz perceber Deus e o mundo e as minhas relações com Deus e o mundo.
“A fé-conversão torna-se então a realidade fundadora de uma nova visão do mundo, de uma nova experiência da vida e de uma ética igualmente nova”[2].
A Teologia então tem início aí. No Novo Ser, no homem agora que teve esse encontro com Deus. Todo o homem que se encontra com Deus é teólogo. Como a minha fé vai formar a minha Teologia? Isso depende de quanto a minha fé é dinâmica, ou se será morta, monótona e repetitiva.

3. A Fé de Olhos Aberto para o Mundo
Se a fé busca o saber e a fé é a base teológica a partir de uma nova vida. Então preciso através da razão (busca da minha fé), estreitar o meu entendimento entre o Deus transcendente e imanente com o mundo e o pensar do homem moderno. Isso exige, sempre, abertura da fé para novas verdades, para novas leituras bíblicas. Isso é o aprofundamento da fé. Ou seja, a produção de novos conceitos para um novo mundo. Se o cristão não fizer a leitura das realidades atuais do mundo, sua teologia será rasa. E a sua fé tendenciosa e morta, pois perdeu o sentido da nova ética e da nova criatura.

“Pelo fato da Bíblia apresentar Deus como estando tanto além do mundo quanto presente no mundo, os teólogos de todas as eras são confrontados com o desafio de articular o entendimento cristão da natureza de Deus de uma forma que equilibre, afirme e sustente numa tensão criativa a realidade da transcendência e imanência divinas. Uma afirmação equilibrada de ambas as verdades facilita uma relação adequada entre a ‘Teologia, razão e a cultura’. Quando tal equilíbrio não está presente, problemas teológicos não tardam em surgir. Assim, uma ênfase excessiva na transcendência pode levar a uma Teologia que é irrelevante para o contexto cultural que ela deseja alcançar, enquanto uma ênfase exagerada na imanência pode produzir uma Teologia presa a uma determinada cultura”[3].

A fé em Deus é a mesma, as razões dessa fé em Deus são mutáveis. Isso pelo simples processo de entender a relação: Deus, homem, cultura. Então a Teologia terá sempre uma nova cara, um novo jeito de ser. Sempre partindo do pressuposto da fé inquietante que busca o saber.
A Teologia é o ato de analisar a crença. A crença sempre me fará olhar Deus, homem e cultura aberto para novos entendimentos.

[1] BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. p. 25.
[2] BOFF, op.cit., p. 28.
[3] STANLEY, J. Crenz; ROGER, E. Olson. A teologia do século 20. Deus e o mundo numa era de transição. 1ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2003. p. 09.

4 comentários:

  1. Que alegria encontrá-lo na blogosfera. Sua contribuição por aqui demorou! Parabéns pelo blog. Será mais uma boa referência de reflexão e labor teológico.
    Valeu,
    Elienai

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  2. Até que enfim esse blog saiu! Parabéns, vou sempre passar por aqui, ok? Um abraço, pastor!

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  3. Detalhe: adorei os textos e os detalhes cor-de-rosa! Está uma coisa FOFA, heheheh...

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  4. Bem vindo ao mundo dos blogs, Paulinho! Mais um interlocutor nas conversas teológicas. Parabéns pelo blog. Abração.

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